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Equipe da Unesp Botucatu identifica nova variante do coronavírus - 01/07/2021


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Uma equipe multidisciplinar da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Botucatu, que conta com a participação de Biólogos, anunciou em 25 de maio a descoberta de uma nova variante do coronavírus que está em circulação em pelo menos 20 municípios do interior de São Paulo.

De acordo com o Biólogo Celso Luís Marino, vice-presidente do CRBio-01 e coordenador executivo do Instituto de Biotecnologia da Unesp Botucatu (IBTEC), desde o início da pandemia, a equipe se dedica ao importante trabalho de testagem dos pacientes com suspeita de Covid-19 e sequenciamento do genoma do vírus.

Foi durante esse trabalho de rotina que a equipe detectou a existência de uma nova variante do coronavírus e das mutações presentes nessa nova cepa. Além dos cientistas da Unesp Botucatu, o trabalho também reuniu pesquisadores das unidades da Unesp em Araraquara e São José do Rio Preto, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e do campus de Pirassununga da Universidade de São Paulo (USP), que integram a rede Corona-Ômica, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), projeto que visa a monitorar o genoma do coronavírus circulante no país.

Os resultados foram incluídos na base de dados da Global Initiative on Sharing All Influenza Data (Gisaid), iniciativa internacional que vem promovendo o compartilhamento de informações sobre o genoma do coronavírus. Além disso, os cientistas brasileiros propuseram a nomeação de uma nova linhagem ao sistema Pango, que identifica e cataloga as variantes do coronavírus. Em 25 de maio, o Pango confirmou que a cepa reconhecida em São Paulo se tratava de uma variante nova do coronavírus, que foi denominada P.4.

 

O surgimento da variante

O surgimento e espalhamento de novas variantes decorre da alta circulação do vírus – quanto mais ele circula, maiores são as chances de surgirem variantes, que podem ou não ser mais perigosas e transmissíveis que o vírus original.

A P.4 é a terceira variante do coronavírus encontrada no Brasil – as outras são a P.1, identificada primeiro em Manaus, e a P.2, identificada no Rio de Janeiro. Dezenas de outras cepas foram registradas no exterior, tais como a B.1.617, também chamada de variante indiana, que recentemente foi encontrada no Brasil e que já foi confirmada como uma versão mais transmissível do vírus.

Segundo o pesquisador João Pessoa, integrante da equipe da Unesp Botucatu e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, a P.4 originou-se da B.1.1.28, uma forma do coronavírus que circulava no Brasil desde o início da pandemia. As variantes baseadas na B.1.1.28 receberam a nomenclatura iniciada com P, como a amazonense P.1, a fluminense P.2 e a P.3, identificada nas Filipinas. A partir da identificação da nova variante, os cientistas investigarão outros aspectos.

“O primeiro passo é a detecção. A partir do momento que houve a detecção, temos outras perguntas a serem respondidas. Agora vamos checar até onde a variante chegou, se está confinada ao estado de São Paulo ou se já se espalhou para outros estados”, ressalta Pessoa.

Até o momento, não há informações de casos fora de São Paulo, mas com a identificação oficial da variante, as informações sobre a P.4 estarão disponíveis para cientistas de todo o mundo, que poderão identificar a ocorrência de casos da P.4 com mais facilidade, medindo assim o seu alcance.

A P.4 apresenta a mutação L452 na proteína S do vírus, que também está presente na variante indiana. No entanto, essa informação não é suficiente para determinar se a P.4 seria, como a variante indiana, mais transmissível ou agressiva. Também não se sabe se ela causa algum sintoma específico ou um conjunto de sintomas diferente da doença original.

De acordo com Marino, a partir da identificação, os laboratórios fabricantes de vacinas contra a Covid-19 também poderão testar se suas vacinas são eficientes na proteção contra essa nova cepa.

“Conhecendo seu inimigo, você pode monitorá-lo. O ponto importante foi detectar que temos uma variante nova. Agora tem que haver um trabalho dos hospitais, os médicos avaliarem se os sintomas variam em relação à P.1 ou P.2, se essa variante responde mais a um tratamento que outro. É uma medicina mais personalizada”, destaca o Biólogo.

 

A importância dos Biólogos nesse trabalho

O trabalho dos pesquisadores da Unesp é multidisciplinar, e Biólogos estão presentes tanto na gestão quanto no trabalho de pesquisa em si. Como coordenador executivo do IBTEC, Celso Luís Marino trabalhou para garantir que o Instituto pudesse continuar de portas abertas para realizar o importante trabalho de testagem para Covid-19 durante toda a pandemia.

“O Biólogo tem uma visão holística dos seres vivos, tem conhecimento de ecologia e evolução, que são aspectos importantes, porque estamos lidando que um ser que está tentando se adaptar no planeta. Ele tem uma visão que auxilia outros profissionais, que é complementar. Disciplinas como evolução, ecologia, microbiologia e imunologia, que o Biólogo tem em sua grade curricular, fazem grande diferença”.

Além de Biólogos, a equipe é formada também por profissionais como farmacêuticos, biomédicos, veterinários e médicos. Marino e Pessoa ressaltam que a multidisciplinaridade é importante para que haja perspectivas diferentes e visões complementares, o que enriquece os estudos.

“Nós temos visões diferentes da ciência, um tem uma formação melhor em bioquímica, outro em epidemiologia, em evolução. O conhecimento de uma pessoa só, por mais que ela se especialize, é limitado. Quanto mais eclético é o grupo, mais chance de aquilo gerar perguntas interessantes, que vão efetivamente resolver problemas”, diz Pessoa, que se graduou em Medicina Veterinária antes de se especializar em Microbiologia.

Marino acrescenta que as universidades e institutos de pesquisa fomentam essa complementaridade de visões, e essa é apenas uma das razões para defender o trabalho dessas instituições.

“A multidisciplinaridade é possível na academia. As universidades públicas e institutos de pesquisa devem ser valorizados, porque são ambientes democráticos, em que todos têm voz e você consegue fazer coisas multidisciplinares.”


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